Apesar dos desafios das políticas anti-covid, participantes na Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa demonstraram optimismo em relação ao futuro dos seus negócios e no mercado de importação de produtos lusófonos. Em boa medida, a confiança assenta no potencial de plataforma de Macau entre a China e o bloco lusófono
A Cotai Expo do Venetian acolhe deste ontem e até amanhã a 27ª Feira Internacional de Macau (MIF), a Exposição de Franquia de Macau (MFE) e a Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa (PLPEX), três eventos que decorrem em paralelo e onde o papel de Macau como plataforma sino-lusófono é transversal. No primeiro dia dos certames, o Jornal TRIBUNA DE MACAU ouviu alguns participantes na PLPLEX, que, em geral, expressaram optimismo em relação ao futuro do mercado, tendo em conta o potencial de Macau como ponte, bem como da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin.
Porfírio Azevedo Gomes, presidente da direcção da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, sublinhou que, no sentido de se consolidar como uma plataforma de negócios entre a China e os países de língua portuguesa, Macau deve “estimular, primeiro, a aprendizagem da língua portuguesa e, em segundo lugar, financiar as empresas portuguesas ou as empresas aqui estabelecidas ou as associações de raiz portuguesa”. Por outro lado, destacou que existe “por parte do governo de Hengqin toda uma política virada para o estreitamento das relações com os países lusófonos”, algo que “até serve de exemplo para Macau”.
Várias empresas participantes na PLPEX já estão mesmo presentes em Hengqin, através de representações que esperam servir de primeiro passo para a divulgação e venda de produtos na região. Heiman Sou, fundador da “Sardinia Macau”, ressalvou porém que Hengqin ainda requer mais desenvolvimento. O empresário elaborou que são necessárias “mais pessoas, consumo ou procura de mercado” ou então “será apenas um escritório sem qualquer impacto significativo”.
No que diz respeito à procura de produtos lusófonos, Heiman Sou referiu que Hong Kong manifesta maior abertura para as coisas novas do que Macau. Além disso, realçou que ainda “é mais fácil importar directamente de Portugal para Xangai do que por intermédio da RAEM”, para evitar repetir os mesmos processos alfandegários.
Por sua vez, o presidente da Quinta da Marmeleira, Wu Zhiwei, estendeu o seu optimismo não só ao panorama local mas também às relações exteriores. Procurando apostar ainda mais em Portugal, o empresário de Macau, proprietário da empresa vinícola da zona de Alenquer, planeia investir numa agência de viagens com o intuito desenvolver “uma ponte de ligação entre Portugal e China”.
“A intenção é dar a conhecer Portugal aos chineses e para os portugueses também conhecerem a cultura chinesa”, explicou, vincando o propósito de adicionar valor ao negócio dos vinhos através da cultura e gastronomia lusitana. Para já, segundo referiu, importa esperar por melhorias na situação pandémica e a consequente normalização dos voos para levar turistas chineses a visitar Portugal.
Classificando Portugal como “um país bom para investir”, antevê “um futuro risonho” nesse domínio. Segundo Wu Zhiwei, a própria Quinta da Marmeleira vai apostar na construção de uma nova adega, para apresentar aos turistas chineses todo o processo de produção vinícola.
Algumas empresas da PLPEX destacaram as restrições anti-covid como um persistente obstáculo aos negócios, como é o caso da “Yi Yang Company”. Apesar de ser capaz de operar na região de Zhuhai e ver mais oportunidades no mercado chinês, o seu negócio tem estado limitado a Macau, pois “as fronteiras podem fechar a qualquer momento” e “não se consegue prever” o que vai acontecer, lamentou Bella Chou, responsável da empresa.
Além disso, apontou alguns desafios de marketing inerentes ao negócio de vinhos, ao referir a necessidade de equilibrar a divulgação mais generalizada sobre as marcas de vinho portugueses com os hábitos dos consumidores chineses, que apreciam o factor novidade.
Café cada vez mais na moda
No recinto da PLPEX, a aposta no café é bem evidente. Fernando Marques, representando a CME em parceria com a empresa “PWRD by Coffee”, realçou as oportunidades existentes no mercado chinês para o café brasileiro. “As minhas perspectivas para este mercado são grandes”, disse, ao realçar a crescente adesão dos consumidores chineses ao café.
“Está-se a consumir muito. Está-se a tornar moda consumir café na China e falo também em Macau ou Hong Kong. Dantes, não se via tanta loja de café como agora, e é por isso que também vem a grande aposta nestes produtos”, indicou.
A Angonabeiro, subsidiária do grupo português Delta, também aproveitou a PLPEX para apresentar o café Ginga, produzido em Angola, ambicionando vir a exportar para a China. O café angolano é exportado para Portugal (56 toneladas no segundo semestre de 2020), Espanha, França e Suíça, sendo a China um mercado com “grandes consumidores de café”, e como tal um alvo “muito interessante para a Ginga”, assumiu o director-geral da Angonabeiro, Nuno Moinhos, em declarações à Lusa.
Nuno Moinhos sublinhou ainda que a Angonabeiro tem “vocação exportadora” e está a investir no aumento da capacidade de produção, em novos produtos e na notoriedade internacional da marca angolana. “Havendo condições competitivas, será possível incrementar bastante a quantidade a exportar, quer de matéria-prima, quer de produto acabado”, acrescentou, realçando que a Angonabeiro quer “continuar a desenvolver toda a fileira do café, desde o apoio a produtores e agricultores no campo até à sua transformação e comercialização”.
IPIM prevê subida de 50% nos acordos selados na MIF
O número de acordos na 27ª Feira Internacional de Macau (MIF) poderá aumentar mais de 50% face à edição do ano passado, anteviu ontem Vincent U, presidente substituto do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), com base nas intenções nesse sentido manifestadas por algumas empresas antes do início do certame. Segundo Vincent U, muitas das empresas que vão assinar acordos são da Grande Baía. O responsável do IPIM disse ainda esperar que a retoma dos vistos electrónicos e de excursões do Interior da China facilite a vinda de mais empresários do Continente para participar em actividades na RAEM.
RAEM ajuda Zhejiang na ligação com países lusófonos
Macau quer contribuir para aprofundar a cooperação entre a província de Zhejiang e os países lusófonos, através de serviços de tradução, finanças, jurídicos, convenções e exposições, disse o Secretário para a Economia e Finanças. Zhejiang é, de resto, a província chinesa que regista o maior volume total de exportações para o bloco lusófono, há vários anos consecutivos, afirmou Lei Wai Nong numa sessão sobre a cooperação entre Zhejiang, Macau e os países de língua portuguesa, no arranque da Feira Internacional de Macau. Por seu lado, Macau construiu “uma plataforma de serviços integrados que se dedica ao apoio às cooperações económicas e comerciais, ao desenvolvimento sinergético de vários sectores e ao estímulo de crescimento colectivo”, frisou.